Todos os dias quando acordamos, a vida se apresenta tão crua
e vazia, tão cheia de tudo, tão corrente quanto um rio. A vida brilha com os
sentidos que temos que atribuir todos os momentos em que nos deparamos com o
infinito. É tão inútil falar da vida quanto vive-la. Somos um mar de angústias
frente à imensidão do aqui e agora. Por que não angustiar-se? Vivenciemos todas
as angústias que arrebatam nosso ser ao abismo de nossa existência.
Estão tudo ali, pulsando em nossas veias, transcendendo em
nossas reflexões, tocando nossas mãos, brilhando frente aos nossos olhos; é a
vida. A vida autêntica. A vida autêntica não tem sentido, pois ela é a
manifestação do próprio ser-aí. O ser que não tem passado e não tem futuro,
angustia-se diante do nada. Ao definirmos um propósito para a vida, seja uma
causa (religiosa, mística, objetiva, metódica, prática etc.), reduzimos o ser a
um ente, aquilo que se manifesta, ou, se manifestou e tomamos como nosso “ser”;
sem ser. Então, o que é isso que vivemos como sentido do ente? É uma parte de
nosso ser que se transforma a todo o momento, por isso que se torna um desastre
todos os nossos projetos. Já que, ao entrarmos em contato com sentimentos que
nos leve a uma reflexão sobre nosso existir, nos deparamos com a perda do
sentido proposto por nós em determinado momento de nossa vida. Como que esse
momento é passado, e como a consciência é consciência desse passado, o passado
que até então era um em-si, se transcende na consciência do agora, e se choca
com esse ser que não é mais esse ente do passado. Aqui, ou nós alienamos essa
contradição e vivemos nesse projeto do ente passado; ou restabelecemos uma
nova síntese de ser, que é um novo ente do presente, e reconfiguramos nosso
projeto para outras perspectivas.
O conscientizar-se dessa experiência da existência do ser
pode ser conflituosa ou não, dependendo do quanto nós nos relacionamos com tal
fato em nossas vidas. Essa relação está na forma e na intensidade em que nossa
consciência reflexiona sobre esses aspectos. Quanto maior a reflexão, maior
será a angústia frente ao nada, ou, o ser. Aqui está o contato com o nosso ser.
Eis que a relação plena com a vida acontece. Mas, essa relação é de tal
violência que fugimos e negamos todas as formas de contato, seja sensitivo ou
reflexivo, com nossa pura contradição. Essa representação social que há em
torno dos sentimentos de tristeza, melancolia, angústia, medo, pavor, náusea
etc.; que os definem como sentimentos de inferioridade do ser, são na verdade a
manifestação do contato entre meu eu, enquanto ente, com o eu, enquanto meu
ser. A necessidade de todas as formas de conhecimento em, de uma maneira ou
outra, extirpar tais sentimentos, é levar o ser à incompletude de sua
transcendência. Sendo assim, vivendo um ente barrado de realizar-se seu ser.
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